Em Medida provisória: Diário do diretor (Editora Cobogó), Lázaro Ramos narra os bastidores de seu primeiro trabalho atrás das câmeras, como diretor de cinema. Compartilhando desafios, escolhas criativas e descobertas, Lázaro conta seu envolvimento com o projeto desde que conheceu a peça Namíbia, não!, de Aldri Anunciação, e decidiu adaptá-la para o cinema. “Entendemos logo que ali havia uma ideia muito original e que trazia debates importantes, principalmente no momento histórico que estávamos vivendo, momento em que a população negra no Brasil estava discutindo intensamente o seu espaço de formação de identidade, direitos e deveres”, escreve no livro. Além de relatar as etapas de criação de um filme, Lázaro confidencia no texto suas dúvidas quanto a decisões narrativas e estéticas, assim como os obstáculos de produção e distribuição enfrentados por Medida provisória – aclamado em festivais nacionais e internacionais. A trama do filme retrata um Brasil distópico, num futuro próximo, em que o Estado decreta uma medida provisória para enviar os negros – “cidadãos de melanina acentuada” – de volta à África, como reparação pela escravização de seus ascendentes. O livro inclui um QR Code para a visualização de 300 imagens do making of do filme Medida provisória. Trechos: “Nunca pensei que em um só trabalho eu teria tantos aprendizados, alegrias e medos. Agora, desejo de maneira mais apaixonada contar mais histórias estando nesta função de diretor. Alguns associam o diretor a um Deus supremo, discordei disso, ou pelo menos desejei ser um diretor que trabalha de outra maneira. Quero ser um enamorado, alguém que vibra a cada conquista do elenco, que mantém a capacidade de se emocionar e se envolver com cada frame visto na sala de edição, e principalmente alguém que consegue, com uma obra artística, abrir outras compreensões do mundo e assim acender no público a certeza de que existe a possibilidade de melhorar o mundo, mesmo que só um pouco.” “Nós nos juntamos na sala [no Afrobunker] e oferecemos personagens a cada um deles: advogada, cristão, candomblecista, adolescente, bombeiro, YouTuber, vendedor ambulante… Assim fomos construindo um ambiente onde havia diversidade. A proposta era fazer um laboratório criativo de um dia com esses atores, imaginando o que aconteceria se a medida provisória fosse realmente decretada e se esse neoquilombo de fato existisse. Como cada personagem se comportaria nesse ambiente, nesse esconderijo?”