Desde quando foi originalmente publicado em Portugal, em 2015, Esse cabelo vem traçando um dos caminhos mais originais, sensíveis e afiados da literatura em nossa língua. Isso porque a obra de estreia de Djaimilia Pereira de Almeida dialogava — já com absoluta originalidade — com o romance pós-colonial, o ensaio de identidade, a autoficção e (não menos importante) a tragicomédia. Um novo caminho estabelecido por essa que está entre as vozes mais singulares da literatura contemporânea em qualquer idioma. “A verdade é que a história do meu cabelo crespo intersecta a história de pelo menos dois países e, panoramicamente, a história indireta da relação entre vários continentes: uma geopolítica”, diz Mila, a narradora de inspiração autobiográfica de Djaimilia Pereira de Almeida. Nascida em Luanda, Mila é filha de mãe negra angolana e pai branco português. Chega a Lisboa com a tenra idade de três anos e sente-se uma forasteira desde o início. É pela lente do seu cabelo indomavelmente cacheado que a história de Mila entrelaça memórias de infância e adolescência, história familiar e alentadas reflexões sobre o tenso equilíbrio — interno e externo — de uma identidade europeia e africana. Escrito num estilo que mescla a melhor fabulação romanesca com o ensaio, a crônica, o manifesto e a comédia cultural, Esse cabelo traz a contribuição única da língua portuguesa a um diálogo global cada vez mais fervente sobre racismo, feminismo, colonialismo e independência. Irresistível de ponta a ponta, amorosa e um tanto irônica, essa é a história da maturidade, em uma nação na periferia da Europa, de uma mulher negra que é considerada forasteira em seu próprio país e não consegue enxergar a possibilidade de “retornar” a uma pátria que, de fato, nunca foi sua.